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Desejos,

ou Quem me dera…

 

Um dia ia eu com a filha, quando ela parou, mão atrás das costas, olhos fechados, concentrada em algo que eu ignorava.

Indagada me contou nada me poder dizer, sob pena de o seu desejo não ser concretizado.

Respeito o jogo. Por aqui fiquei quanto a segredos.

Mas gosto da regra do jogo; pelo que fiquei a saber que quando um avião risca o céu no nosso campo visual, para tanto basta, com os dedos fazer figas e pedir um desejo. Uma única condição: que o pedido seja secreto.

Passámos, então, a alertarmo-nos mutuamente de aviões, riscos no céu e secretos segredos, para manter o jogo sem esquecer a regra.

Os caminhos do meu dia a dia levavam-me perto de um aeroporto, assim via sempre aviões a caminho da escola. Passei a jogar e, mão no volante pedia boas aulas para esse dia. Isto contei a Eleonor, e conto agora, furando um pouco a regra.

Nem sempre funcionou. Quem sabe por falta de fé em alguns dias.

Um dia descobri um aluno, também ele a fazer batota: consultava deliciado um livro que ensinava como construir aviões de papel. Retirado o dito das mãos do incauto, foi este repreendido e como castigo trazer a cada dia um avião diferente.

Os dedos presentes são também eles de meus alunos. Indagados de como faziam figas foram muito criativos.

Começo comigo, como é obvio nada mais posso acrescentar de

Desejos, ou Quem me dera…

(1996)

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